domingo, 1 de fevereiro de 2009

entrevista clarice l.

junio lemer: é mais difícil você se comunicar com o adulto ou com a criança?

clarice lispector: quando eu me comunico com criança, é fácil porque sou muito maternal. quando eu (me) comunico com adulto, na verdade estou me comunicando com o mais secreto de mim mesma. aí é dificil, né?

junio lemer: o adulto é sempre solitário?

clarice lispector: o adulto é triste e solitário, né?

junio lemer: e a criança?

clarice lispector: a criança... tem a fantasia... solta...

junior lemer: a partir de que ponto, de acordo com a escritora, oo ser humano vai se transformando em triste e solitário?

clarice lispector: (pausa longa) ... isso é segredo. (pausa longa) desculpa, eu não vou responder... a qualquer momento na vida, basta um... um choque um pouco inesperado... e isso acontece. mas eu não sou solitária não. tenho muito(s) amigos. e só tô triste hoje porquê eu tô cansada.

o pensamento lá em você

domingo, frio, cedo. rabisco algum fragmento de conto inacabado (assim como minha vida). relembro os livros interminados, os almoços deixados pela metade no prato. chove. a chuva conta e reconta suas moedas nas latas do quintal. um xícara de café bem forte (a terceira). espero o celular tocar e não toca. invento metáforas inóspitas e insossas. tomo um gole do café (já amornado pelo frio). tento criar coragem, mas só vem sono.