quinta-feira, 31 de julho de 2008

próxima pretensão:

"virar o barulho molhado que infiltra nas almas das pessoas e fatalmente acaba por virar a verdade absoluta"

Jackson Nascimento da Hora

terça-feira, 29 de julho de 2008


"a verdade é que não havia mais ninguém em volta"

segunda-feira, 28 de julho de 2008

cabeças em fogo

Penso que foi dessa forma que fui amado, num dia desses de sol azul e de nuvens verdes.
Me pulavam aos dedos os fluxos quilométricos de sangue vivo. As pernas tremulavam inconscientemente calmas. A porta abria-se lentamente. "não repara na bagunça"
Quem foi que disse que eu estava preocupado com a bagunça imoral da tua casa, do teu ninho? Deveria eu ter dito: "não repara na bagunça que tá minha cabeça"
Não me recusei ao banho, até por que me sentia sujo, por dentro e por fora.
Um chuveiro, uma chuva lerda, um beijo molhado, um gosto de paixão de desejo e de álcool.
Quase jurou amor eterno.
Lavou-me como se eu fosse seu bebezinho. Um pouco de amor e carinho, pela primeira vez na minha vida.
Era um bicho. Menos: uma coisa: robô andróide, manequim, boneco. Menos até: seco (e de alma tão extremamente mole).
“queria ter você pra mim todos os dias”
Eu sorri.
“você me amaria?”
“até os ossos” respondi.
E amei, fiz tudo. Tudo o que ele me pediu. E o que não pediu.
...
(perco o fio da meada e não consigo mais escrever, “a metáfora me sucumbe”)
Eu tinha fechados os olhos na hora em que aquele homem vestido de pelos vermelhos me olhou fundo, beijou-me loucamente, bafejou no meu pescoço, chamou-me de meu menino, meu bebê (e antes d’eu ser ‘menino’ e ‘bebê’, eu era dele), apagou a luz, escureceu-se seu corpo tupi, apenas uma luminária de bolinhas de gude, escondeu (inocente) o rubro que eu tanto amava. E eu quase, quase pedi pra acender a luz. Mas eu não tinha essas pretensões, por que elas eram outras.
“deixa eu ser teu primeiro homem”
(eu não podia mordê-lo e, portanto, Marquês teria que continuar dormindo.)
A mão: os dedos deles apertando para si os traços pubentes da minha bunda. A outra afagando com calma anciã meus cabelos adolescentes.
“meu menino”, “meu bebê”
Algumas décadas de diferença não adiantavam muita coisa, nem as mudava. Meu. “deixa”. Menino. Meu.
E foi entrando, porta a dentro. Como se estivesse em casa e soubesse todos os caminhos dentro de mim. Dividindo-me em três. Um que amava aquilo, outro que tinha medo daquilo. E outro: que estava atrasado pra chegar em casa antes do jantar.
“me beija”
Separavam-se os três, lentamente:
Doloridamente
E antes que um deles gritasse: “por favor, não me morra. deixe-os aqui comigo, sou eu que sou eles, você me divide e como fico eu?"
Ele pôs a língua na minha boca e tapou-me o direito de falar.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

(8) belo e estranho dia

minto: não sinto sua falta
sinto: não minto sua falta
falta: não sinto, minto
falta: não minto o que sinto

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Um Beijo

"que tivesse um blue.
Isto é
imitasse feliz a delicadeza, a sua,
assim como um tropeço
que mergulha surdamente
no reino expresso
do prazer."
Ana Cristina César